As mulheres representam o setor mais desfavorecido na sociedade economicamente, isso se dá ainda com mais intensidade nos países subdesenvolvidos que buscam na exploração da força de trabalho a mais-valia para a concentração de riquezas de uma minoria. Ao se tratar de empregos que exigirão força, trabalho pesado ou os cargos mais elevados, o estereótipo a eles atribuído é o masculino, pois este supostamente representam maior “capacidade e coragem”, enquanto as mulheres são vistas como vulneráveis e sensíveis “incapazes” de ocupar o mesmo cargo, restando lhes apenas o trabalho precário, com baixa renda.
Isto é, em todos os setores de produção essa regra se aplica, e na mineração não é diferente. As mulheres são desvalorizadas profissionalmente, minoria, e as poucas que ocupam algum cargo, seja ele de recepcionista, fiscal entre outros, enfrentam a ocorrência de abusos psicológicos e sexuais, com frequência. Apesar de toda a carga que as mulheres carregam: mães, esposas, donas de casa e diversas outras atividades que cumprem antes ou depois do trabalho, as cobranças, por sua vez, são feitas de igual para igual, mas o salário é diferente ao dos colegas de trabalho do sexo masculino.
Além disso, há ainda vários “tabus” ou superstições machistas que sofrem, como por exemplo, “mulher na mina pode trazer má sorte”. Como se não bastasse, o trabalho na mineração é o que mais mata, mutila e gera sofrimentos mentais, dessa forma, se tratando das mulheres conseguimos enquadrar também o índice de abuso sexual altíssimo, já que a mineração consiste em um setor dominado por homens, e as poucas mulheres que conseguem adentrar, lutam pela vida diariamente. A problemática não se resume em apenas “trabalhadoras da mineração”, pelo contrario, se ampliam muito mais.
Na maioria dos casos as jazidas são exploradas em locais onde há Agricultura Familiar, trazendo vários conflitos, já que tanto a empresa mineradora quanto a comunidade precisam de água para se manter, o que faz gerar inúmeras contradições, pois na mineração os impactos ambientais e a necessidade de alto consumo d´água e suas problemáticas, como barragens de rejeitos, entre outros, são incompatíveis com a Agricultura Familiar. Assim, camponesas e camponesas que sempre trabalharam com a cultura do cultivo da terra muitas vezes são obrigados a abandonar suas propriedades, aglomerando-se em pequenos povoados e favelas, em situações de extrema miséria, recebendo apenas (isto é, quando recebem) indenizações abaixo do preço merecido.
Atraídos pela a propaganda de emprego que trazem as grandes empresas ao chegarem nas comunidades, diversas famílias migram de varias regiões em busca de melhores condições de vida, mas os trabalhos são poucos, precários, muitas vezes se caracterizando como mão de obra escrava e temporários, e, na maioria das vezes somente no período de implantação do projeto é que são oferecidos, em condições de difícil acesso. A partir de então, quando começam a operar, o índice de desemprego se torna altíssimo, pois precisam de mão de obra qualificada, demitindo os camponeses, que sempre esteve naquela terra, descartando-os e os trocando por técnicos e engenheiros que deem conta de prosseguir o trabalho na mina, já que a partir de então a maioria do trabalho é feito por maquinário. Essa necessidade proporciona ainda mais aglomerações de pessoas nas comunidades, em sua maioria homens, causando grandes impactos sociais principalmente na vida das mulheres, já que esse fenômeno irá influenciar em toda a rotina da comunidade, que antes era composta por um numero pequeno de habitantes e passa então a conter uma aglomeração de pessoas desconhecidas em uma cultura grandemente machista, levando o índice de estupro e prostituição a aumentarem em velocidade assustadora.
São diversas as contradições que nos instigam a querer organizar e lutar por um novo modelo de mineração em que haja Soberania Popular, isto é, que contemple a todos os setores que são diretamente e indiretamente atingidos, já que esse modelo é desumano e não atende as necessidades do país. Que as mulheres possam se desenvolver e criar alternativas de autonomia dentro de um modelo que as possibilite serem vistas não como objetos sexuais e mão de obra secundarizada, mas como sujeitos que compõem a sociedade e requerem igualdade. É necessário entender, portanto, que não existe soberania popular na mineração sem a emancipação das mulheres.
*É militante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), na Bahia.
Edição: Monyse Ravenna